JÚRI JOVEM | BRASIL E NEPAL LEVAM TROFÉU “OLHAR DA BASE” NO 7˚ CINEFOOT
“Jogo Truncado” (Brasil), de Caroline Neumann e Guilherme Agostini Cruz; e “Sunakali” (Nepal), de Bhojraj Bhat, foram os filmes premiados pelo Júri Jovem do 7˚ CINEFOOT.
O curta-metragem brasileiro “Jogo Truncado” discute a luta pela diversidade e respeito dentro do futebol nacional, a partir dos movimentos de torcedores contra a homofobia e o sexismo nos estádios. Já o longa-metragem nepalês “Sunakali” mostra a saga da equipe de futebol feminino de Mugu, no Nepal, em sua jornada no campeonato nacional.
O “Prêmio Olhar da Base” foi concedido por um Júri composto por estudantes do Rio de Janeiro e foi realizado pela primeira vez pelo CINEFOOT. A meta é difundir a cultura audiovisual entre o público jovem, bem como desenvolver a crítica audiovisual no universo estudantil.
O Júri Jovem do 7º CINEfoot foi coordenado pelo Professor de Sociologia do Colégio Pedro II, Roberto Mosca Jr., e composto por Luísa da Silva Pinto Espíndola, Pedro Henrique Mota Tressi, Maria Julia Ferreira Lima de Souza, Yngrid Figueiredo e Mike Ribeiro.
Confira algumas resenhas produzidas pelos participantes.
“Sunakali”, por Maria Julia Ferreira
A ideia de gravar um documentário sobre meninas que querem jogar futebol, vindas de um distrito distante das grandes cidades, já se mostra um assunto singular e não muito abordado. Diferenciado dos típicos filmes com grandes nomes de futebol, trata de pessoas reais e que não têm patrocínio ou recursos como grandes clubes já conhecidos. Bem filmado, é possível se colocar no lugar das meninas que jogam, de suas famílias e do povo que acompanha sua trilha no futebol. O longa aborda a modalidade esportiva como um agente influenciador nas questões sociais e culturais, promovendo a reflexão do público durante todo o filme.
“Sunakali”, por Luísa Espínola
O documentário “Sunakali” tem como história a criação da equipe de futebol feminino da região de Mugu (Nepal) e a sua passagem pelo campeonato nacional. Tendo como foco uma adolescente chamada Sunakali, o filme mostra o impacto que o futebol causou na vida de muitas meninas dessa região, além de conseguir expor temas como o machismo e o casamento precoce.
Na cultura local, o destino das mulheres se resume a cuidar das tarefas domésticas e a criar os filhos, não sobrando espaço para a prática de qualquer outra atividade. Além disso, 90% das mulheres são analfabetas, o que só reforça a influência do machismo na sociedade.
O documentário, então, nos mostra como foi possível a um grupo de meninas da região, ter um destino diferente e realizar aquilo que mais gostavam (jogar futebol), mudando assim um padrão de vida típico das mulheres de suas cidades. O sucesso na jornada deixou claro que essas meninas têm capacidade para realizar outras atividades, sem precisar se prender ao casamento precoce.
Através de entrevistas realizadas com as famílias e com as próprias meninas, percebe-se um grande desejo de seguir um sonho e uma apreensão por parte dos pais em relação aos estudos e ao bem-estar.
O filme conta com uma ótima qualidade artística, mostrando imagens bonitas da região e apresentando uma trilha sonora baseada em músicas típicas da cultura local. Além disso, provoca um sentimento de felicidade no público, ao ver que o sucesso foi alcançado, mesmo com a existência de tantas barreiras a serem ultrapassadas.
“Sunakali”, por Mike Ribeiro
Esse filme é fantástico, sobretudo, por mostrar um lado do futebol ignorado pela grande mídia, dominada e movida pelos interesses da classe dominante. Ele mostra muitas dificuldades e inúmeras barreiras no caminho de um grupo de meninas do Nepal.
Sim. Existe sim futebol em toda parte, até mesmo nas regiões mais distantes como o Nepal. Pois, o necessário para se ter o jogo futebol são apenas pessoas, uma bola e um campo de acordo com o que o possível proporciona e condiciona.
A grande conquista do filme é conseguir destrinchar todo esse contexto de dificuldades e pobreza, apresentando as superações de barreiras que o futebol pode proporcionar. Assim, a propósito destes obstáculos enfrentados, o esporte é praticado de modo mais simples e é exatamente esse fator que o faz interessante. Tem-se uma enorme luta para se alcançar os objetivos que se almeja.
Neste lado do globo, onde a riqueza se concentra, vê-se um futebol muito excludente por ser totalmente elitizado é dominado pelas mais ricas empresas.
É isso que torna esse filme tão fantástico: ele convida todos a conhecer as belezas do Nepal, a vivência de seus habitantes e como o esporte é praticado.
“Jogo Truncado”, por Luísa Espínola
O documentário “Jogo Truncado”, dirigido por Caroline Neumann, expõe a luta contra preconceitos (homofobia e sexismo) no futebol brasileiro por parte de movimentos organizados por torcedores. É um filme bem criativo, pois relaciona com o futebol dois temas atuais, abordando questões que não costumam ter evidência dentro do esporte, como respeito e diversidade. Apresenta uma boa qualidade artística, com bonitas imagens de diversas arquibancadas e de casais homossexuais e heterossexuais à frente de bandeiras que mudam de cor, por exemplo. Provoca uma grande reflexão no público sobre o tema em questão, principalmente porque critica o fato de nenhuma medida ser tomada a respeito desses preconceitos no universo do futebol. A presença das entrevistas de integrantes desses movimentos de torcedores é um dos aspectos mais interessantes, pois ajuda o público a entender melhor sobre o assunto e sobre a forma como esses grupos se organizam e atuam.
“Jogo Truncado”, por Mike Ribeiro
O filme mostra a luta de movimentos LGBTs contra o preconceito nos estádios e cumpre fielmente o seu propósito. E o faz com uma narrativa híbrida: ora quebrando a formalidade ao trazer cenas aparentemente mais “caseiras”, com takes repletos de ruídos e interação informal dos entrevistados; e ora mostrando-se mais íntimo aos conceitos técnicos ao redor da produção de um filme. Assim, com bastante criatividade, o curta consegue tocar o emocional das pessoas, ao tratar de um tema tão importante para reflexão na nossa sociedade, que ainda possui fortes resquícios de uma ideologia preconceituosa e discriminatória. O filme, então, difunde valores que têm em sua essência o progresso da humanidade, pregando, portanto, a tolerância e o respeito à diversidade, pois ela existe e deve ser aceita e inclusa. Estes são preceitos essenciais para o bom convívio e fundamentais para o avanço.
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